quarta-feira, 8 de julho de 2020

A Derrotada ( e criminosa) Estratégia de Poder Olavo-bolsonarista: tornar a verdade irrelevante * Antonio João Lima / RS


A Derrotada (e criminosa) estratégia de poder olavo-bolsonarista de poder: tornar a verdade irrelevante
Antonio João Lima / RS
O fundamental nessa estratégia é a simples disputa de versões, criar sempre uma narrativa própria, mesmo que falaciosa ou universalmente questionável. E, a partir disso, aí sim, construir ou sustentar seu poder real. Seja pela agregação de força própria orgânica ou através da compra de alianças, seja pelo recorrente ataque sobre seus adversários, críticos, ou à própria realidade (como no caso da confusão nos números da Covid-19 no Brasil). É a política como guerra por outros meios. E, como lembrou o senador americano Hiram Johnson, “em uma guerra, a primeira vítima é a verdade”. Ainda que, no caso em questão, tenham se agregado táticas novas, como as orientadas por Steve Bannon, por pastores pentecostais enganadores e pelas milícias cariocas.
Cada um destes tópicos pode e deve ser analisado mais profundamente em futuros artigos. Todavia, por ora, vale a pena reuni-los como meio de abrir o presente debate. Retomo aqui o argumento central do deste artigo: para aqueles reunidos em torno da estratégia Olavo-Bolsonarista, a verdade é sempre irrelevante. Não importa a busca efetiva pela aproximação lógica, racional e “fria” com a realidade dos fatos.
É por isso que agora eles decidiram que vão maquiar abertamente os já subnotificados números da Covid-19 no Brasil. É por este mesmo motivo, inclusive, que eles desconsideram, e por vezes combatem o simples exercício científico. Ou então, se apegam tão facilmente às suas próprias “versões da realidade”. Como se tudo pudesse ter sempre pontos de vista igualmente respeitáveis e questionáveis, a exemplo da “natureza de esquerda do nazismo”, a “inexistência da crise climática global” ou a “cloroquina e isolamento vertical como soluções para o coronavírus”.
Pandemia esta, inclusive, que poderia, segundo eles, muito bem ser apenas uma invenção da “comunista OMS e imprensa globalista”, que usaria o “terrorismo midiático” com o objetivo de levar sua “aliança com o PCC Chinês ao controle mundial”. Qualquer absurdo pode ser apresentado como argumento razoável, nesta estratégia. Para seus objetivos, uma pandemia de informações desencontradas é tão útil quanto a própria pandemia do Coronavirus, como deixou claro o Ministro da destruição do Meio Ambiente de Bolsonaro.
Foi assim que a famosa mamadeira se tornou verdade para tantos milhões de brasileiros durante a eleição. Foi assim que uma facada muito oportuna elegeu Bolsonaro presidente da República, desobrigando-o a confrontar “suas verdades próprias” através dos debates. Mas a busca pela verdade, em todos estes casos, era irrelevante mesmo. O central era ter-se uma narrativa própria, capaz de ser aceita e defendida por sua turba, mesmo que soe absurda. E a construção e sustentação real de poder e enfrentamento, de forma paralela, como fruto concreto desta estratégia. A exemplo da compra do Centrão em meio à própria pandemia, com o único objetivo de evitar o Impeachment.
Não é difícil de se perceber que Olavo de Carvalho cumpriu um papel central na disseminação deste método, mesmo que hoje eles mostrem suas baixarias em público. Um estudo sistemático de suas falas ao longo das últimas décadas demonstra isso claramente. Por muitos anos, Olavo foi apenas mais um maluco, defendendo ideias absurdas que não faziam qualquer sentido. Por isso era um outsider em qualquer ambiente lúcido de debate. Fosse ele acadêmico, filosófico ou político. Olavo era símbolo do ridículo, assim como Bolsonaro, sua família e os generais de pijama da reserva (os poucos desavergonhados para ainda defender o golpe genocida de 1964 até pouco tempo atrás).
Entretanto, este covil de malucos passa a representar perigo efetivo quando se torna útil para aqueles focados em consolidar uma estratégia real de poder: as Igrejas Pentecostais de direita, os generais da ativa e forças internacionais com interesses no Brasil. Steve Bannon é outra referência central aqui, articulando líderes de direita por todo o mundo, dispostos a construir força real para este “novo eixo internacional do mal”, ainda que na maior parte das vezes baseados no referido desprezo pela realidade. Mas o enfraquecimento de Bannon e seu pupilo Donald Trump serão objeto de análise em outros artigos.
Nesta estratégia, aquilo que chamamos de Fake News não representa apenas a difusão de notícias sabidamente falsas. São instrumentos constantes e intencionais de disputa de versões, e servem perfeitamente à estratégia de criar “verdades próprias”, confusões generalizadas que justifiquem a mobilização de suas forças e o enfrentamento permanente de seus críticos ou adversários.
Observe que esta estratégia explica a postura Bolsonarista em todo e qualquer tema que você queira analisar. Você pode fazer o esforço de observar as reações deles frente a qualquer tema polêmico. A verdade é sempre irrelevante. Não há recuo para eles. Eles terão sempre sua própria versão para os fatos. Mesmo que isso represente a morte de dezenas de milhares de brasileiros, o sofrimento de milhões ou o colapso de nossa economia já deteriorada.
É isso que faz dos Bolsonaristas orgânicos um grupo irredutível, sem envergadura para rever posicionamentos. Capazes de defender abertamente a guerra civil, o fechamento do STF e Congresso e ameaçar o Estado de Direito sem medo. E isso será suficiente, enquanto alimentar sua matilha, e eles conseguirem preservar seu poder real na sociedade e, em especial, no aparato de Estado. Enquanto isso, eles seguem fazendo manobras escusas como ao longo dos últimos 30 anos, agora ajudando ainda mais seus parceiros a “passar a boiada”, enquanto seguem armando e treinando suas milícias “ucranizadas”.
Portanto, a estratégia de quem lhes faz oposição não pode recair sobre a disputa da verdade dos fatos, apenas. Torna-se uma luta eterna de “versões” sobre todo e qualquer tema, seja ele o enfrentamento da Covid-19 no Brasil, assim como o fato da terra ser plana ou não. Passar os números diários da pandemia no Plantão da TV e demais órgãos de imprensa agora aliados é uma ação histórica em defesa da liberdade de informação. Mas como diria o poeta, pode até ser uma boa rima, mas não é uma solução.
A ação daqueles que querem o bem do Brasil não pode mais passar apenas por denúncias diárias, ações isoladas ou unidades pontuais sem efeitos práticos. Chegou o momento de todos os democratas do Brasil se unirem em uma estratégia comum, que passará por somar sim todas as denúncias possíveis, mas também demonstrar que o impeachment de Bolsonaro é uma exigência imediata da quase totalidade dos Brasileiros e suas instituições. Haverá, certamente, reações de grupos fascistóides. E como sociedade precisamos estar preparados para elas. Mas não podemos perder de vista que apenas denúncias e manifestações de opiniões não serão mais suficientes. A verdade será sempre enfrentada pelos Bolsonaristas. A questão central é a questão do Poder. E esta passa, necessariamente, pelo impeachment imediato de Bolsonaro e o cercamento jurídico e policial de suas milícias.
(*) Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
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